Que sal é esse?
O cloreto de magnésio é anunciado na internet
como panaceia para os mais
diversos males. Não há nenhuma comprovação
científica de tais benefícios
Naiara Magalhães
Ilustração Negreiros |
Você está tomando cloreto de magnésio? Está se perguntando se deveria? Em uma busca rápida pela internet, encontram-se dezenas de sites, blogs e grupos de discussão em português enaltecendo as propriedades da substância. As listas de indicações do "sal milagroso", como ele é chamado por seus propagandistas, incluem mais de setenta problemas de saúde - dos mais banais, como um resfriado, aos que ainda impõem desafios à medicina, como câncer, infarto, derrame e depressão. À repórter que assina esta reportagem, o representante de um site de venda garantiu que, para uma moça saudável e jovem, o sal faria emagrecer, combateria o stress e evitaria "um mal futuro". Mas, antes de correr à farmácia mais próxima em busca de um punhado de cloreto de magnésio, leia o que diz uma especialista: "Não há nenhum embasamento científico para os benefícios atribuídos à substância. Portanto, se a pessoa não apresentar deficiência de magnésio, não há recomendação médica para que seja feita a suplementação", afirma a nutricionista Ana Maria Lottenberg, da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.
O magnésio é um micronutriente essencial ao organismo. Está envolvido na produção de energia das células, na ativação de mais de 300 enzimas e na geração de estímulos elétricos necessários ao funcionamento das células cardíacas, musculares e nervosas. Os defensores do cloreto de magnésio partem de tal fato (incontestável, comprovado cientificamente) para vender o sal como panaceia para os mais diversos males. Segundo eles, como a maioria da população apresenta deficiência desse mineral, a suplementação seria necessária. A questão é que o magnésio é facilmente encontrado em vários componentes da dieta brasileira, como feijão, banana, leite, ervilha, aveia, lentilha, castanhas e em todas as verduras e legumes. A ingestão balanceada desses alimentos é suficiente para suprir a sua necessidade diária.
O primeiro a defender o uso médico do cloreto de magnésio foi o cirurgião francês Pierre Delbet (1861-1957), que, durante a I Guerra Mundial, descobriu as propriedades antissépticas do sal. A cardiologia chegou a utilizar a substância no tratamento de arritmias: injetava-se magnésio na veia do paciente para normalizar seus batimentos cardíacos. "Mas esse tratamento foi abandonado há mais de vinte anos por se mostrar pouco eficaz", diz o cardiologista Ibraim Pinto, do Hospital do Coração. Existem estudos (a maioria de pequeno porte) sobre o uso do magnésio no tratamento da asma e da enxaqueca, mas os resultados são inconclusivos. Em pessoas sem deficiência do mineral, a suplementação de magnésio, na melhor das hipóteses, é inócua. Na pior, as doses extras de magnésio podem causar desde diarreia até irritação do estômago e intoxicação renal. Não convém, portanto, arriscar.