Por Valéria Dias - valdias@usp.br
Publicado em 6/setembro/2013 | Editoria : Saúde |
Publicado em 6/setembro/2013 | Editoria : Saúde |
O tratamento combinado entre lítio e enriquecimento ambiental (estimulação cognitiva e física) pode potencializar a sobrevivência de novas células geradas no cérebro de animais adultos, como mostra pesquisa do Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP). “O tratamento combinado poderia constituir uma estratégia mais eficaz para promover a sobrevivência de novos neurônios e melhorar a função cognitiva na doença de Alzheimer. Porém, como o estudo foi realizado em animais adultos saudáveis, é necessário realizar pesquisa adicional para avaliar com mais clareza as implicações desses resultados”, aponta a psicóloga Evelin Lisete Schaeffer, coordenadora e idealizadora do projeto.
O lítio é utilizado como estabilizador do humor no tratamento do transtorno afetivo bipolar. Já o enriquecimento ambiental com estimulação cognitiva e física significa proporcionar um ambiente mais estimulante com oportunidade para desafios físicos e mentais.
“Em pesquisa com animais, um ambiente enriquecido com elementos de estimulação física e cognitiva consiste de uma gaiola que pode conter rodas de corrida, escadas, gangorra, tubos de plástico coloridos conectados para formar túneis, e brinquedos como bolinhas de borracha e pequenos objetos de madeira de diferentes formas e cores”, descreve Evelin. “Esses elementos são reorganizados e renovados em geral a cada dia para estimular o comportamento exploratório dos animais”.
“Para seres humanos, representa engajamento regular na prática de exercícios físicos e envolvimento contínuo em atividades cognitivamente estimuladoras, como assistir à televisão, ouvir música, ler jornais, revistas e livros, jogar cartas e xadrez, desafiar palavras-cruzadas e quebra-cabeças, e interessar-se por artes, ao longo da vida”, declara.
Neurogênese no hipocampoO objetivo do estudo foi avaliar se o tratamento de camundongos adultos com uma combinação de lítio e ambiente enriquecido com estímulos físicos e cognitivos poderia ter um efeito potencializador sobre a neurogênese no hipocampo. Neurogênese é o processo de formação de novos neurônios a partir de células-tronco residentes no próprio cérebro. Hipocampo é uma estrutura cerebral envolvida nas funções cognitivas de aprendizado e memória, que por sua vez são prejudicadas com o envelhecimento cerebral e a doença de Alzheimer. “A neurogênese é profundamente reduzida com o envelhecimento do cérebro e não parece suficiente para reparar a perda de neurônios em condições neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, conforme demonstrado em animais de laboratório”, diz a cientista.
“Já se sabe que prática de atividade física, exposição a objetos que estimulam a atividade cerebral cognitiva, e alguns fármacos como antidepressivos e lítio são capazes de aumentar a produção e a sobrevivência de novos neurônios no cérebro de animais adultos e velhos, inclusive em alguns modelos animais de doenças neurodegenerativas”, conta.
Experimento
Camundongos adultos receberam injeções na cavidade abdominal com um marcador de novas células em divisão. Eles foram separados em 4 grupos: os mantidos em gaiolas padrão e tratados com ração padrão de laboratório; os mantidos em gaiolas padrão e tratados com ração enriquecida com lítio; os expostos a um ambiente enriquecido com estímulos físicos e cognitivos e tratados com ração padrão; e os expostos a um ambiente enriquecido e tratados com ração contendo lítio.
Após 4 semanas de tratamento, a análise do cérebro dos animais revelou que aqueles que receberam o tratamento combinado tiveram um aumento significativamente maior da taxa de sobrevivência de novas células geradas no hipocampo, em comparação à soma dos efeitos produzidos pelo tratamento isolado apenas com lítio ou com o ambiente enriquecido. Portanto, houve um efeito de interação, e não um efeito aditivo, entre lítio e ambiente enriquecido.
Para Evelin, pesquisas futuras poderiam investigar o efeito de interação entre lítio e ambiente enriquecido na neurogênese e memória em modelos animais transgênicos para a doença de Alzheimer, e no desempenho cognitivo de idosos com a doença em estágio inicial e com comprometimento cognitivo leve, que podem evoluir para Alzheimer.
Além de Evelin também participam do projeto o professor Wagner Farid Gattaz e os bolsistas de Iniciação Científica Fabiana Gadotti Cerulli e Hélio Oliveira Ximenes de Souza, do Laboratório de Neurociências (LIM-27) do IPq, além do colaborador Sergio Catanozi, do Laboratório de Lípides (LIM-10) da Divisão de Endocrinologia e Metabolismo do HC.
O projeto Efeito combinado de lítio e enriquecimento ambiental sobre a sobrevivência de novas células no hipocampo de camundongos adultostem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A pesquisa foi uma das ganhadoras do “Prêmio Lundbeck de incentivo à Pesquisa”, recebido pela aluna Fabiana Gadotti Cerulli. A estudante foi contemplada com um pacote para participação no “II World Congress on Brain, Behavior and Emotions” que ocorrerá em abril de 2014, em Montreal, Canadá.
Imagem: Wikimedia
O lítio é utilizado como estabilizador do humor no tratamento do transtorno afetivo bipolar. Já o enriquecimento ambiental com estimulação cognitiva e física significa proporcionar um ambiente mais estimulante com oportunidade para desafios físicos e mentais.
“Em pesquisa com animais, um ambiente enriquecido com elementos de estimulação física e cognitiva consiste de uma gaiola que pode conter rodas de corrida, escadas, gangorra, tubos de plástico coloridos conectados para formar túneis, e brinquedos como bolinhas de borracha e pequenos objetos de madeira de diferentes formas e cores”, descreve Evelin. “Esses elementos são reorganizados e renovados em geral a cada dia para estimular o comportamento exploratório dos animais”.
“Para seres humanos, representa engajamento regular na prática de exercícios físicos e envolvimento contínuo em atividades cognitivamente estimuladoras, como assistir à televisão, ouvir música, ler jornais, revistas e livros, jogar cartas e xadrez, desafiar palavras-cruzadas e quebra-cabeças, e interessar-se por artes, ao longo da vida”, declara.
Neurogênese no hipocampoO objetivo do estudo foi avaliar se o tratamento de camundongos adultos com uma combinação de lítio e ambiente enriquecido com estímulos físicos e cognitivos poderia ter um efeito potencializador sobre a neurogênese no hipocampo. Neurogênese é o processo de formação de novos neurônios a partir de células-tronco residentes no próprio cérebro. Hipocampo é uma estrutura cerebral envolvida nas funções cognitivas de aprendizado e memória, que por sua vez são prejudicadas com o envelhecimento cerebral e a doença de Alzheimer. “A neurogênese é profundamente reduzida com o envelhecimento do cérebro e não parece suficiente para reparar a perda de neurônios em condições neurodegenerativas como a doença de Alzheimer, conforme demonstrado em animais de laboratório”, diz a cientista.
“Já se sabe que prática de atividade física, exposição a objetos que estimulam a atividade cerebral cognitiva, e alguns fármacos como antidepressivos e lítio são capazes de aumentar a produção e a sobrevivência de novos neurônios no cérebro de animais adultos e velhos, inclusive em alguns modelos animais de doenças neurodegenerativas”, conta.
Experimento
Camundongos adultos receberam injeções na cavidade abdominal com um marcador de novas células em divisão. Eles foram separados em 4 grupos: os mantidos em gaiolas padrão e tratados com ração padrão de laboratório; os mantidos em gaiolas padrão e tratados com ração enriquecida com lítio; os expostos a um ambiente enriquecido com estímulos físicos e cognitivos e tratados com ração padrão; e os expostos a um ambiente enriquecido e tratados com ração contendo lítio.
Após 4 semanas de tratamento, a análise do cérebro dos animais revelou que aqueles que receberam o tratamento combinado tiveram um aumento significativamente maior da taxa de sobrevivência de novas células geradas no hipocampo, em comparação à soma dos efeitos produzidos pelo tratamento isolado apenas com lítio ou com o ambiente enriquecido. Portanto, houve um efeito de interação, e não um efeito aditivo, entre lítio e ambiente enriquecido.
Para Evelin, pesquisas futuras poderiam investigar o efeito de interação entre lítio e ambiente enriquecido na neurogênese e memória em modelos animais transgênicos para a doença de Alzheimer, e no desempenho cognitivo de idosos com a doença em estágio inicial e com comprometimento cognitivo leve, que podem evoluir para Alzheimer.
Além de Evelin também participam do projeto o professor Wagner Farid Gattaz e os bolsistas de Iniciação Científica Fabiana Gadotti Cerulli e Hélio Oliveira Ximenes de Souza, do Laboratório de Neurociências (LIM-27) do IPq, além do colaborador Sergio Catanozi, do Laboratório de Lípides (LIM-10) da Divisão de Endocrinologia e Metabolismo do HC.
O projeto Efeito combinado de lítio e enriquecimento ambiental sobre a sobrevivência de novas células no hipocampo de camundongos adultostem apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
A pesquisa foi uma das ganhadoras do “Prêmio Lundbeck de incentivo à Pesquisa”, recebido pela aluna Fabiana Gadotti Cerulli. A estudante foi contemplada com um pacote para participação no “II World Congress on Brain, Behavior and Emotions” que ocorrerá em abril de 2014, em Montreal, Canadá.
Imagem: Wikimedia
Mais informações: email schaffer@usp.br, com Evelin Schaeffer